terça-feira, 20 de outubro de 2009

Como vencer a ansiedade

Como vencer a ansiedade
Filipenses 4:4-13

INTRODUÇÃO
Ansiedade é a doença do século. A ansiedade atinge ricos e pobres, doutores e analfabetos, crianças e idosos, crentes e incrédulos. Muitas pessoas estão acorrentadas pela ansiedade. A ansiedade rouba a nossa paz, furta a nossa confiança em Deus e embaça os nossos olhos espirituais.
Sigmund Freud, pai da Psicanálise, afirma que a ansiedade é mãe de todas as neuroses. Segundo o dicionário Aurélio, ansiedade significa: “Estado afetivo em que há o sentimento de insegurança”. Ansiedade é sofrer por antecipação. Originalmente, no grego, a palavra Ansiedade significa ESTRANGULAMENTO, apertar o pescoço, sufocar e tirar o oxigênio.
Os psicólogos e conselheiros cristãos falam da ansiedade como um dos problemas mais urgentes de nossos dias. É a emoção oficial de nossa época (COLLINS, 1984, p. 51). Ilustração: a mulher que arrancou dois seios com medo de desenvolver câncer de mama.
A ansiedade é fruto direto da preocupação (pré-ocupação: é preocupar-se antes do problema chegar). Está ligado com nossos dilemas frente a um futuro incerto. Jovens e adolescentes vivem um quadro crônico de ansiedade diante de decisões a serem tomadas: Vestibular, concurso público, casamento, etc.
O maior perigo da ansiedade é a precipitação. Hoje, o maior conflito existente no Oriente Médio (guerra entre árabes e judeus) é o desdobramento direto de uma decisão que foi tomada precipitadamente por um coração tomado pela ansiedade. Abraão havia recebido de Deus uma promessa que seria pai de uma grande nação. Contudo, diante da aparente demora no cumprimento da promessa, ele e sua esposa, Sara, resolveram alugar a barriga da criada Hagar. Abraão deitou-se com Hagar e esta veio a conceber Ismael (pai do povo árabe). Depois Deus cumpriu sua promessa visitando o casal Abraão e Sara, dando-lhes um filho legítimo, Isaque.
Diante de um quadro de ansiedade aguda, os psicólogos receitam ansiolíticos. São remédios cujo objetivo é diminuir o grau da ansiedade. Nesta noite você será medicado, entretanto, o seu receituário, o seu ansiolítico está expresso não em uma bula de remédios ou numa prescrição médica. Hoje você aprenderá a vencer a ansiedade a partir de uma reflexão da Palavra de Deus.

Qual o remédio para a ansiedade?
Como Paulo nos aconselha a vencer a ansiedade?
Ele não diz assim: “Parem de se preocupar”. Ele não diz isso pela simples razão que é inútil dizer a uma pessoa nessa condição que pare de se preocupar. Seria como dizer a uma pessoa que tem uma dívida muito alta e simplesmente não tem como pagar: “Fique tranquila!”. A pessoa iria responder: ‘Você está me mandando ficar tranqüila porque não é você que está devendo!”. Seria como dizer a um alcoólatra inveterado que pare de beber. Ele simplesmente não consegue, porque é prisioneiro desse vício.
Temos aqui o que podemos chamar de uma Psicologia bíblica.

1 – Orar (v. 6)
Paulo usa três expressões que retratam a oração, sendo elas:
  • Oração – Originalmente tem um sentido de adoração e louvor. Antes de pedir qualquer coisa para Deus, ore, louve e adore. Entre na presença de Deus, na Sala do Trono, no Santo dos santos. Tome consciência da grandeza de Deus, da presença do SENHOR, da Sua majestade.
  • Súplica – Somente depois de adorar e louvar, apresentamos a Ele nossa súplica. Aqui, apresenta-se diante de Deus questões particulares e específicas.
  • Ações de Graça – Aqui existe uma diferença substancial entre Ações de Graça e Adoração. Nós adoramos a Deus pelo que Ele é, e damos graças pelo que Ele faz. Portanto, o convite do apóstolo Paulo é agradecermos a Deus por aquilo que Ele já realizou na nossa vida.

Quando agimos assim, a Bíblia diz que “a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (v. 7). A expressão “guardará o vosso coração” remete a um conceito militar. Literalmente, significa, “porá um guarda ou sentinela no vosso coração”. Paulo diz que a ansiedade dá lugar à paz de Deus.


2 – Trocar a preocupação pela meditação (v. 8)

O apóstolo Paulo nos convida a trocarmos pensamentos que nos afligem por pensamentos que alimentam a nossa fé. Ele nos convida a meditar naquilo que apazigua o nosso coração.

O Salmo 3 e 4 foram compostos por Davi quando ele passou as maiores tribulações da sua vida. No Salmo 3 ele estava no deserto fugindo do seu próprio filho. No Salmo 4 ele também estava no deserto, mas, desta vez, fugindo de Saul. O que me chama a atenção nestes dois salmos é repetição de um versículo: “Deito-me e pego no sono” (Sl 3:5) e “Em paz me deito e logo pego no sono” (Sl 4:8). Daí surge a seguinte ponderação: numa situação como esta todos nós seríamos capazes de deitar, mas pouquíssimos conseguiriam dormir. Isso porque o nosso corpo repousa, mas nosso coração e nossa mente simplesmente não desliga. Como alguém que está vivendo debaixo de tanto opressão e perseguição consegue deitar e logo dormir? Somente alguém cuja fé está alicerçada na fidelidade de Deus. Alguém que não é dominado pela ansiedade, mas está com o coração confiante no SENHOR.


3 – Praticar o ensino da Palavra de Deus (v. 9)

Não devemos ficar apenas na contemplação, mas, antes, fazer com que os conceitos se tornem uma prática do nosso dia-a-dia. A grande verdade é que nossa fé é puramente conceitual. Nós professamos crer em Deus, mas na prática agimos como se não crêssemos. O perigo de muitos pastores e teólogos, segundo Lloyd-Jones, é passar tempo demais lendo a respeito dEle e se esquecendo de se relacionar com Ele[1].

Há uma verdade que precisamos aprender desesperadamente: “Deus cuida de nós!”. Deixa Deus cuidar da sua vida! Lutero tinha uma expressão que parecia um tanto quanto redundante, mas que carrega uma força bombástica. Dizia o reformador para os seus paroquianos: “Deixa Deus ser Deus!”


4 – Contentar-se (v. 11-12)

Paulo afirma que a antídoto para vencer a ansiedade produzida pelos nossos desejos, é o contentamento. A insatisfação é a marca da nossa geração. Nós somos insatisfeitos por natureza. A insatisfação nos leva à murmuração. Lloyd-Jones diz que quando Paulo escreveu essas palavras estava na prisão, provavelmente acorrentado a um soldado à sua direita e outro à sua esquerda[2].

Existem situações na sua vida que você simplesmente não pode mudar, portanto, aprenda a viver contente. Eu, por exemplo, queria ser mais alto, mais forte, ter mais cabelos, ter um poste físico mais robusto e, quem sabe, ter olhos claros..., mas não, sou baixo, nordestino, gordinho, vou ficar careca e preciso viver feliz com isso.

Precisamos tomar uma decisão: “Não vou reclamar do que eu não tenho”. Há muitas coisas que nós não temos e gostaríamos de ter. E também há muitas coisas que nós olhamos para o outro e dissemos: “Por que esse miserável tem isso e não tenho”. Tem gente que não olha para aquilo que Deus lhe deu, mas fica olhando para o que Deus deu ao outro. E há muitas coisas que Deus já nos deu e nós jogamos fora.

Se fizermos uma análise sincera em nossa vidas veremos que temos muito mais do que aquilo que realmente precisamos. Lloyd-Jones diz que essa passagem diz que nossa suficiência é o SENHOR. Permitam-me usar uma pessoa como exemplo: D. Isolina. Essa irmã já passou e passa por grandes provações na vida. Entretanto, há sempre um sorriso em seus lábios. Quando pergunto a ela: “D. Isolina, está tudo bem?” ela responde: “Oh, pastor não está bom não..., mas vai ficar”.


CONCLUSÃO

Comentando o texto de Filipenses 4:6-7, Lloy-Jones introduz seu sermão com essas palavras: "Esta é, sem dúvida, uma das declarações mais nobres e mais consoladoras que pode ser encontrada em qualquer peça literária já escrita. Somos tentados a dizer isso a respeito de muitas passagens das Escrituras, porém do ponto de vista de nossa vida pessoal neste mundo, e do ponto de vista da experiência prática, não há declaração que ofereça mais conforto para o povo de Deus, do que estes dois versículos"[3].

O Hino n. 108 (Hinário Novo Cântico), escrito H. G. Spafford, fala sobre a felicidade em Jesus. Entretanto, há algo precisamos saber a respeito deste hino. O homem que escreveu esse hino, o compôs após perder toda sua família num naufrágio. Trata-se de um exemplo vivo de que podemos vencer toda e qualquer situação e continuarmos servindo ao SENHOR com alegria.

Rev. Daniel Sampaio Mota

[1] JONES. D. M. Lloyd. Depressão Espiritual. Editora PES, São Paulo: 1996, p. 246.
[2] JONES. D. M. Lloyd. Depressão Espiritual. Editora PES, São Paulo: 1996, p. 242.
[3] JONES. D. M. Lloyd. Depressão Espiritual. Editora PES, São Paulo: 1996, p. 226

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

À espera de um milagre

À espera de um milagre
João 5:1-14


Introdução

Quero tomar emprestado como título deste sermão o filme protagonizado por Tom Hanks que conta a história de um homem condenado injustamente que está no corredor da morte aguardando a execução. O nome do Filme é À Espera de um Milagre. Semelhantemente, a luz do texto de João capítulo 5, encontramos um homem que também está à espera de um milagre. Embora não esteja no corredor da morte, este paralítico está condenado a passar o resto dos seus dias nessa condição.
O evento de João 5 tem como cenário o Tanque de Betesda. O próprio texto afirma que “Nestes, jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse” (v. 3-4). A crença na descida de um anjo gerou expectativa em muitos enfermos, provocando assim um ajuntamento de pessoas que estavam desenganadas pela medicina e aguardavam unicamente uma intervenção divina para solução de seus problemas. Todas essas pessoas estavam à espera de um milagre.
Entretanto, a Bíblia diz que Jesus desce ao encontro de um homem. Senão, vejamos:

Quem é esse homem?
1 – Um colecionador de fracassos
Estamos diante de um homem que sabe exatamente o significado da palavra fracasso. São 38 anos de tentativas frustradas. São 38 anos de experiências negativas. O histórico desse homem está marcado por decepções. Há 38 anos esse homem vê pessoas sendo curadas, mas ele não alcança a cura. Há 38 anos ele testemunha outras pessoas sendo beneficiadas pelo agito das águas, mas ele mesmo ainda está a esperar.
Muitas pessoas se encontram nessa mesma condição. Estão há tanto tempo esperando um milagre de Deus em suas vidas. Já ouviram tantos relatos e testemunhos de pessoas que foram abençoadas, mas simplesmente parece não chegar a sua vez de experimentar na sua própria vida aquilo que evidencia na vida de outras pessoas.

2 – Alguém abandonado.
Quando Jesus lhe dirige a seguinte pergunta: “Queres ser curado?” (v. 6) ele prontamente responde: “Não tenho ninguém...”(v. 7). Esse homem expressa sua realidade de abandono. Abandonado pela família. Abandonado pelos amigos. Abandonado pela sociedade. Abandonado pelo Estado. Não há nada mais terrível do que o sentimento do abandono.
Pior do atravessar uma doença é atravessar uma doença sozinho. Pior do que estar no hospital, é estar no hospital sozinho. Não ter ninguém ao seu lado. Ele não contava com a solidariedade de ninguém. Em nome da fé pode-se criar um ambiente de competição, estresse, disputa e tensão. Naquele lugar, todos eram adversários, querendo um milagre. Havia uma concorrência em busca de milagres.

3 – Alguém que carrega um sentimento culpa (v. 14).
Não há consenso entre os comentaristas, mas o fato é que o verso 14 traduz uma idéia de que sua condição de paralisia se deu como conseqüência direta do seu pecado. Jesus advertiu-o, dizendo: “Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda cousa pior” (v. 14). A Idéia que o texto passa é que ele estava naquela condição em função do seu pecado. Se essa interpretação for verdadeira, com certeza esse homem carrega um enorme sentimento de culpa. Afinal, seus próprios caminhos o conduziram a uma vida de enfermidade.

Qual a reação de Jesus?
1 – Enquanto todos vão à Jerusalém em direção à festa, Jesus se dirige ao Hospital da cidade (v. 1-2).
O texto é categórico ao afirmar que havia uma grande festa em Jerusalém. Possivelmente a Páscoa ou a Festa dos Tabernáculos (celebrações responsáveis por grandes ajuntamentos em Jerusalém). Contudo, enquanto todos se dirigem ao banquete, Jesus vai em direção dos aflitos. Jesus disse: “os são não precisam de médicos, e sim os doentes” (Mt 9:12). Portanto, se você é alguém enfermo, doente, alguém que está a espera de um milagre..., você está no lugar certo.
Você está em Betesda! A palavra Betesda significa Casa de Misericórdia. Aqui não apenas os anjos descem para mover as águas, mas o próprio Cristo se faz presente para curar o seu povo. Jesus se dirige a um lugar onde havia uma multidão de doentes. Havia doentes de todas espécies. Um aglomerado de pessoas enfermas. Todas em busca do mesmo objetivo: ser curado! O que atraía as pessoas para aquele lugar era a expectativa de saírem dali curadas.

2 – Jesus está diante de uma multidão, mas vai em busca de um único homem.
Isso é simplesmente impressionante! Vemos aqui o valor de um indivíduo para Deus. Esse texto declara que Deus te vê no meio da multidão. Para Deus, você não é apenas mais um. Jesus moda todo o seu itinerário para encontrar-se com um único homem. Parafraseando o rabino Abraham Heschel: “a grande diferença entre o cristianismo e todas as outras religiões do mundo é exatamente esta: nas outras religiões o homem está tentando desesperadamente buscar Deus, enquanto no Cristianismo, o homem está terrivelmente perdido e, por isso, Deus vai em busca do homem para salvá-lo”.
Jesus vai em busca daquele homem:
2.1 - Jesus vê (v. 6). No meio daquela multidão, os olhos de Jesus alcançam aquele homem. O profeta Isaías já sinalizava sobre o olhar misericordioso de Deus “Porque a minha mão fez todas estas cousas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Isaías 66:2).

2.2 – Jesus sabe (v. 6). Essa expressão revela a onisciência de Deus. Servimos a um Deus que sabe e conhece todas as coisas. Jesus conhecia o histórico daquele homem, bem como seu drama e sua dificuldade em alcançar um milagre. Não há nada que escape ou fuja do seu controle.

3 – A intrigante pergunta de Jesus
Queres ser curado?”. Parece meio fora de ordem essa pergunta de Jesus. Evidentemente, se aquele homem estava ali é porque alimentava em seu coração a expectativa de ser curado. Essa pergunta, basicamente, foi a mesma pergunta que Jesus fez ao cego Bartimeu: “Que queres que eu te faça?” (Lc 18:41). Obviamente, Bartimeu estava a procura da restauração da sua visão. Entretanto, parece-me muito claro que Jesus desejava ouvir a confissão por parte deles.
A confissão é algo muito importante na vida cristã. Devemos confessar ao SENHOR não apenas nossas faltas e pecados, como também nossas limitações e, sobretudo, nossa total dependência da graça dEle em nós. Após confessar diante de Jesus sua condição e real necessidade, o paralítico de Betesda finalmente, após 38 anos de espera, alcança um milagre. Contudo, dessa vez um anjo não desceu do céu para agitar a água; foi o próprio Deus quem desceu do seu trono de glória para encontrar-se com ele.


Rev. Daniel Sampaio Mota

Como passar pelas provações da vida

Como passar pelas provações da vida
Gn 22:1-19


Introdução

Os heróis da bíblia são homens que foram além dos seus limites. Homes que se superaram, homens que estavam acima da média. Homens ousados, intrépidos e corajosos que marcaram a história. Eram homens comuns, mas invencíveis. Gente que decidiu fazer a diferença no mundo.
Diante da vida existem dois tipos de pessoas: aqueles que simplesmente passam pela vida e aqueles que dizem o porquê estão passando por ela. Que tipo de pessoa você é? Aquela que passa pela vida ou aquele que quer deixar suas pegadas registradas na história da humanidade?
Recordo-me do evento registrado por Philip Yancey concernente a Martin Luther King Jr. Na véspera de seu vigésimo oitavo aniversário, King estava no púlpito de uma Igreja de Montgomery, no Alabama. Sua casa fora incendiada e ele andava dormindo pouco, ansioso por causa das recentes ameaças de morte. King começou a orar em público: “Senhor, espero que ninguém tenha de morrer por causa da nossa luta pela liberdade. Certamente, não quero morrer. Mas, se alguém tiver de morrer, que seja eu”. Eis a estatura espiritual desse homem! Ele ora e se apresenta como resposta de oração.
Há ainda um homem de nossos dias a quem devo mencionar: Missionário Ronaldo Lindório. Certa vez, lendo uma de suas cartas com relatos do campo missionário, ele finalizou seu relatório com a seguinte oração: “Senhor, ensina-nos a gastar os nossos dias naquilo que realmente vale a pena”. A profundidade dessa oração revela a grandiosidade da obra desempenhada por esse missionário.
Alguém já comparou a vida cristã a uma escola, onde todos nós fomos matriculados. O objetivo dessa escola é promover crescimento, conhecimento, mudança e transformação. Contudo, há algo na escola que serve para testar o nível de conhecimento e maturidade acerca daquilo que aprendemos: A PROVA. Na aplicação da prova o professor saberá exatamente qual aluno levou a sério aquilo que aprendeu ou aquele que levou na brincadeira.
Duas coisas podem acontecer após a realização de uma prova: aprovação (apto) e reprovação (inapto). O que tem de crente bombando na escola de Deus. O que tem de crente repetente, com dependência na escola de Deus. Todas as vezes que reprovamos numa matéria devemos fazê-la outra vez. É por isso que existem inúmeras pessoas que estão simplesmente estacionadas na fé. Não conseguem avançar porque estão em constante reprovação.
Muitas pessoas são chamadas por Deus, mas poucas são aprovadas por Deus. Jesus disse que muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Saul foi chamado, mas foi reprovado por Deus. Judas foi chamado, mas foi reprovado. Ser aprovado por Deus é mais importante do que ser chamado por Ele.
Aos 75 anos de idade Abraão foi matriculado na escola da fé. Agora, depois dos 100 anos ele ainda está enfrentando provas e desafios na vida. Você nunca é velho demais para enfrentar novos desafios. “Quando nós paramos de aprender, nós paramos de crescer; e quando nós paramos de crescer, nós paramos de viver” (Rev. Hernandes Dias Lopes).
Gênesis 22 nos mostra a maior de todas as provas que Abraão enfrentou. Senão vejamos:

1 – A provação provinha de Deus
“...pôs Deus Abraão à prova...” (v. 1). Não há dúvidas no texto de que DEUS intentava uma prova com Abraão. Essa provação tinha uma origem bem definida: Deus. Essa provação tinha um destinatário certo: Abraão.
É preciso, entretanto, que tracemos uma diferenciação entre provação e tentação. As tentações vem dos desejos pecaminosos que estão dentro de nós (Tg 1:12-16), enquanto as provações vem do SENHOR. As tentações são usadas pelo diabo para arrancar o pior que está em nós; as provações são usadas por Deus para levar-nos ao melhor.

2 – A ausência de explicações
O que mais aflige o servo de Deus é falta de explicações racionais para as provações. O pedido de Deus para Abraão, aparentemente, parecia algo absolutamente absurdo. Estaria Deus contradizendo as suas promessas? Como Deus pode pedir para eu sacrificar o filho que Ele mesmo disse que seria o herdeiro da promessa?
Não havia uma explicação racional. E isso é surpreendente, porque Abraão não ficou em busca de explicações, ele prontamente obedeceu. Quando Deus mandar você sentar não fica procurando cadeira; senta logo.
“Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus sevos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado” (v. 3)

3 – A solidão na provação
Há dois fatos que nos chama atenção na trajetória do patriarca rumo ao Moriá. Primeiro, Abraão não comunica nada a Sara, sua esposa. Isso se deve porque, possivelmente, Sara não concordaria com idéia absurda de oferecer seu filho como sacrifício ao SENHOR. Fato este que o levou a sair de madrugada.
Outro ponto que merece destaque relaciona-se a caminhada propriamente dita rumo ao monte. Diz o texto explicitamente que Abraão prosseguiu sozinho, despedindo os seus servos (v. 5). Na caminha cristã nós temos o apoio da família, dos amigos e dos irmãos, mas há momentos em que teremos que subir o monte sozinho. Haverá ocasiões na sua vida em que não haverá ninguém. É você e Deus. É o seu Moriá. É a sua provação.

4 – O silêncio na provação
Deus fala apenas duas vezes nessa história: no começo e no fim. Isso significa dizer que durante toda a caminha de Abraão até o Moriá, Deus permaneceu em silêncio. O próprio Abrão diz poucas palavras. O silêncio ensurdecedor é quebrado com a inquietante pergunta de Isaque: “Pai, Onde está o cordeiro para o holocausto” (v. 7). Aquela, com certeza, foi uma pergunta que atingiu o coração de Abraão.
O silêncio de Deus é a crise de muitos cristãos. A angústia é algo que assola nosso coração quando não encontramos justificativas plausíveis para eventos que ocorrem nas nossas vidas. Entretanto, a Bíblia diz que “Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência” (Rm 4:18).

4 – A provação e a obediência
Não existem casualidades na vida do cristão. Na verdade, tudo que nos ocorre obedece a uma ordenança divina. O próprio apóstolo Paulo afirma que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito” (Rm 8:28). Sendo assim, podemos concluir que até mesmo os momentos de dor são usado por Deus para aperfeiçoar-nos.
Moisés, depois de peregrinar 40 anos no deserto junto com o povo, deu uma justificativa da caminhada prolongada rumo á Terra Prometida: “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos” (Deut. 8:2).

COMO SER APROVADO POR DEUS?
1 – Obediência Incondicional
Nem sempre teremos resposta para todas as perguntas. Nem sempre teremos todas as nossas petições atendidas por Deus. Não devemos estabelecer para com Deus uma relação de barganha, onde a obediência a Ele esteja condicionada às suas bênçãos. Pelo contrário, devemos servi-lo simplesmente pelo que Ele é: Deus. Ouvi certa vez um pregado afirmar categoricamente: “Deus é Deus é nada menos; o homem é homem e nada mais”. Deus está a procura de servos que o obedecem incondicionalmente. Homens que se submetam integralmente ao senhorio de Cristo.
O profeta Samuel diz: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Sm 15:22). Deus nunca nos dará daquilo que não sejamos capazes de devolver a Ele. Quando Abraão subiu ao Monte Moriá ele o fez num ato de obediência. Não havia justificativas da parte de Deus. Não havia explicação racional que justificasse tal pedido. Entretanto, Abraão se lança incondicionalmente a vontade revelada de Deus.
Soren Kierkegaard, pensador cristão, afirma que a fé mais pura nasce exatamente no meio da provação .

2 - Transforme suas provações em momentos de adoração (v. 5)
A provação de Deus nunca vem com o propósito de nos derrubar, mas para nos fortalecer. A convicção do patriarca estava fundamentada em Deus e nas suas promessas. Veja o que disse Abraão: “Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós” (v. 5). Abraão transforma o momento de provação num culto ao SENHOR. O Monte da Provação foi transformado num Monte de Adoração.
As palavras de Abraão expressam sua confiança total no SENHOR. Ele diz: “eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós” (v. 5). Abraão cria que não desceria do monte sozinho. Sua fé era suficientemente plena para crer que seu filho voltaria com ele.

3 – Dependa totalmente da provisão de Deus (v. 8)
É exatamente no meio da provação que Deus se revela de maneira extraordinária. Neste episódio foi cunhado mais um nome que carregava em si um atributo de Deus: Jeová-Jiré (Deus Provedor).
Aqui surge uma pergunta: Onde e como o SENHOR provê as nossas necessidades?
1. Quando estamos no lugar em que Ele mandou que estivéssemos (v. 3). O texto diz que Deus havia designado explicitamente para Abraão o lugar do sacrifício. Portanto, Abraão estava exatamente no lugar onde Deus havia determinado.
2. Quando estamos fazendo aquilo que mandou que fizéssemos (v. 10). A provisão chegou quando Abraão levantou sua mão para sacrificar o menino. A provisão de Deus veio no momento em que Abraão estava fazendo aquilo que Deus o havia mandado fazer.
A estrada da obediência é a porta da provisão. Não espere a provisão de Deus se você não está no centro da sua vontade. Não espera a provisão de Deus se você está em desobediência.

Que tipo de aluno você tem sido? Você tem sido aprovado ou reprovado por Deus?



CONCLUSÃO
A história de Abraão com seu filho narra a nossa biografia. É impossível ler esse texto sem fazer uma ponte hermenêutica com o sacrifício vicário de Jesus. A semelhança entre o sacrifício de Isaque e o sacrifício de Jesus é notória. Senão, vejamos:
1 - Isaque é a figura de Yeshua. Ele caminhou, por três dias, para o holocausto, assim como Yeshua ficou três dias entre sua morte e ressurreição para salvar a humanidade. Isaque levava a lenha nas costas como um sinal da cruz, apontando para o Calvário.
2 – Isaque foi gerado de forma miraculosa, assim como Cristo.
3 – Isaque, como Cristo, foi o centro dos planos de seu pai.
4 – A morte de Isaque seria um grande sacrifício para Abraão, assim como Deus demonstrou Seu grande amor quando deu Seu Filho [João 3:16; Romanos 8:32].
5 – Isaque foi oferecido por seu pai, como Cristo foi também.
6 – O Senhor Jesus carregou Sua cruz, assim como Isaque carregou a lenha.
7 – Isaque, como mancebo, poderia ter resistido ao seu pai. Nisto ele foi uma figura da disposição de Cristo em Se submeter aos planos do Pai [Isaías 53:7; Lucas 22:42].
8 – O livramento de Isaque é uma figura da ressurreição [Hebreus 11:19].

A história de Abraão preconiza a história da redenção. O amor desprendido do pai Abraão em ofertar seu único filho simboliza o amor de Deus em entregar seu único filho para salvação do homem. Como disse Agostinho: Deus ama cada um de nós como se houvesse apenas um para amar .
O grande missionário Hudson Taylor colocou na porta da sua casa: EBENEZER E JEOVA-JIRÉH – Quando olha para trás, vê a mão de Deus. Quando olha para frente, vê a promessa de Deus, portanto não precisa temer!
O Monte Moriá se tornou um dos locais mais importantes na história da nação de Israel. Mil anos depois, é exatamente nesse lugar que Salomão vai construir o grande Templo. A provação forjou Abraão como um dos maiores homens da história da humanidade.


Rev. Daniel Sampaio Mota

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

As qualidades de um pai aprovado por Deus

As qualidades de um pai aprovado por Deus
Jó 1:5

Introdução

Jonathan Edwards foi um pastor puritano usado no primeiro grande despertamento. Pregou o sermão que ficou mundialmente conhecido como "Pecadores nas mãos de um Deus irado". Como pregador foi insulperável e como pastor, tornou-se um ícone para as futuras gerações. Os historiadores modernos dizem que Edwards tinha luz na mente e fogo no coração, conjugava unção e sabedoria.
Contudo, em nenhuma área Edwards foi mais bem sucedido do que em seu papel como pai. Edwards e sua esposa Sarah tiveram onze filhos. Apesar de um horário de trabalho rigoroso que incluía acordar às 4:30 da manhã ler e escrever em sua biblioteca, viagens extensas, e reuniões administrativas infinitas, ele fazia questão de dedicar muito de seu tempo aos seus filhos.

Apesar de sua vida agitada, Edwards se comprometeu a passar pelo menos uma hora por dia com eles, principalmente lhes ensinando princípios cristãos. E se ele perdesse um dia porque estava viajando, acumularia essas horas e as passaria com os filhos quando voltasse.

Recentemente, o estudante Benjamim B. Warfield de Princeton encontrou, depois de muitas pesquisas, 1.394 descendentes conhecidos de Edwards. E nessa pesquisa podemos constatar o maravilhoso legado que Edwards deixou aos seus descendentes através de sua vida cristã. Dos 1.394 descendentes de Edwards:
· 3 se tornaram presidentes de universidades,
· 3 senadores dos Estados Unidos
· 30 juizes
· 100 advogados
· 60 médicos
· 65 professores de universidades
· 75 oficiais de exército e marinha
· 100 pregadores e missionários
· 60 escritores de destaque
· 1 vice-presidente dos Estados Unidos
· 80 altos funcionários públicos,
· 250 formados em universidades, entre eles governadores de Estados e diplomatas enviados a outros países.

Os descendentes de Jonathan Edwards não custaram ao Estado um dólar.
Por outro lado, Benjamim B. Warfield também pesquisou a vida de Max Jukes, um famoso ateu, contemporâneo a Edwards, o qual freqüentemente atacava os discursos, a ideologia e as pregações de Edwards. Max Jukes, o ateu, viveu uma vida ímpia, casou-se com uma jovem ímpia, e também deixou um legado para seus descendentes, da descendência dessa união entre Jukes e sua esposa, pesquisada por Benjamim, constatou-se que de todos seus descendentes encontrados:
· 310 morreram como indigentes.
· 150 foram criminosos, sendo 78 assassinos
· 100 eram alcoólatras
· Mais da metade das mulheres, prostitutas
· Os 540 descendentes de Jukes custaram ao Estado 1.250.000 dólares.

A história de Jonathan Edwards é um exemplo do que alguns sociólogos chamam a "regra das cinco gerações." Como um pai cria seus filhos e o amor que eles dão, os valores que ensinam, o ambiente emocional que oferecem, a educação que provêem, não só influencia seus filhos, mas as quatro gerações seguintes. Em outras palavras, o que os pais fazem pelos seus filhos permanecerá pelas próximas cinco gerações.

Mas a teoria das cinco gerações trabalha de ambos os modos. Se não nos esforçarmos para sermos bons pais e transmitirmos princípios cristãos, nossa negligência pode infestar gerações. Considere o caso de Max Jukes. Max Jukes teve problemas com a bebida, que o impediu de manter um trabalho fixo. Também o impediu de demonstrar muita preocupação pela esposa e os filhos.

As histórias de Jonathan Edwards e Max Jukes oferecem lições poderosas sobre o legado que nós deixaremos como pais. Daqui a cinco gerações é bem provável que as nossas realizações profissionais serão esquecidas. Na realidade, nossos descendentes podem pouco saber sobre nós ou nossas vidas. Mas o modo como somos pais hoje e princípios que transmitimos afetarão diretamente não só nossos filhos, mas também nossos netos, bisnetos e as gerações que se seguem.

Como dizia Edwards: Deus fez todas as coisas com um propósito, e Deus também tem um propósito para todos nós, Nenhum homem vive em vão, todos nós deixaremos um legado. Qual será o seu?
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Hoje é dia dos pais. “A paternidade é a vocação mais sublime que um homem pode exercer” (Rev. Hernandes Dias Lopes). A relação pai e filho é algo tão forte nas Escrituras que o último versículo do Antigo Testamento fala que uma das funções básicas do Messias seria “converter o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos aos pais” (Ml 4:6). É triste verificar que grandes homens de Deus foram brilhantes em diversas áreas da vida mas fracassaram como pais. Davi era um homem segundo o coração de Deus, mas um péssimo pai. Eli era um excelente sacerdote, mas não tinha autoridade dentro de sua casa. Samuel era um grande profeta, mas negligente como líder espiritual do seu lar. “Se o nosso cristianismo não é capaz de mudar o nosso relacionamento familiar, ele está falido” (Rev. Hernandes Dias Lopes).
Jó é um dos poucos personagens bíblicos que consegue conciliar espiritualidade com vida familiar. Ele tornou-se um exemplo de perseverança e firmeza, mas em momento algum negligenciou sua função como pai. O livro de Jó fascinou tanto o reformador João Calvino que 159 de seus 700 sermões escritos foram baseados nele[1]. É exatamente nesse livro que encontramos uma das histórias familiares mais dramáticas já vividas na história da humanidade. Jó era um homem extremamente rico, portador de uma reputação invejável. Sua família vivia os mais altos padrões da sua época. Em outras palavras, podemos afirmar que Jó tinha condições de dar aos seus filhos tudo o que o dinheiro poderia comprar.
Por isso, gostaria de convidá-lo a considerar, à luz do texto sagrada de Jó 1:5, quais são As qualidades de um pai aprovado por Deus.
Jó era um pai exemplar. Diz a Bíblia que “Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1:5, grifos meu). Algumas considerações devem ser feitas.

1 – Um pai preocupado com a vida espiritual de seus filhos
Primeiramente, o texto registra que Jó “chamava seus filhos e os santificava”. Perceba a diferença que faz a liderança espiritual do pai dentro de casa. Isso é um pai de verdade, no sentido estrito da palavra. Jó estava preocupado não apenas com educação de seus filhos; não apenas com a provisão de seus filhos; mas, sobretudo, profundamente preocupado com a vida espiritual de seus filhos. Antes de preocupar-se com a escola do seu filho, que faculdade ele vai fazer, em que área ele vai trabalhar, preocupe-se em ter um filho santo. Faça como Jó: CHAME O SEU FILHO e o SANTIFIQUE. Coloque suas mãos sobre a cabeça dele e consagre-o ao SENHOR.

2 – Um pai intercessor
Em segundo lugar, diz o texto que Jó “levantava-se de madrugada” com o propósito de colocar os seus filhos diante do altar. Eis aqui a figura de um pai intercessor. Qual foi a última vez que você orou por seus filhos de madrugada? Jó, além de ter um momento de oração com os filhos, tinha também um momento secreto onde ele, sozinho, apresentava seus filhos a Deus. O texto ainda registra que “oferecia holocaustos segundo o número de todos eles”, ou seja, não havia um filho sequer que Jó deixasse de orar. Não havia predileções. Jó não ponderava se este filho dava mais trabalho do que aquele ou se aquele outro era mais bonzinho e obediente que o primeiro. Definitivamente, não havia este espírito no coração de Jó. Diz o texto que ele apresentava seus filhos individualmente a Deus.
Sempre haverá esperança para família onde houver uma mãe que ora. Sempre haverá esperança para a família onde houver um pai comprometido em interceder por seus filhos. Antes de falar de Deus para nossos filhos, precisamos falar de nossos filhos para Deus.

3 – Um pai perseverante
Em terceiro lugar, podemos destacar a regularidade com que Jó fazia isso. A palavra empregada pelo autor sacro é “continuamente”, dando a idéia de uma prática freqüente e ininterrupta. Jó sempre apresentava seus filhos diante do altar do Senhor. Não desista nunca de orar para o seu filho. Se ele está no mundo ore por ele; se ele já é um servo do SENHOR, continue orando por ele. Ore sempre. Os seus filhos devem ser o primeiro item da sua lista de oração.
Nem sempre é o pai rico que deixa a maior herança. O legado da fé é a maior herança que um pai pode deixar aos seus descendentes.

Rev. Daniel Sampaio Mota
[1] YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus lia. São Paulo: Vida, 2000, p. 47.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Como destruir sua Igreja

Como destruir sua Igreja

Se você está interessado em destruir sua Igreja, basta apenas você seguir os seguintes passos:


1 – Seja um crítico implacável. Critique sempre o pastor e a liderança;
2 – Compartilhe com outras pessoas todos os defeitos e erros que foram cometidos pela liderança;
3 – Não seja freqüente. Vá à Igreja apenas esporadicamente. Quanto menos você for à Igreja, melhor;
4 – Nunca esteja disponível. Quando te pedirem ajuda, diga: “Estou muito ocupado” ou ainda “Não estou preparado”. Cuidado, se envolver pode ser perigoso!
5 – Jamais cumprimente os visitantes. Caso você os cumprimente eles poderão pensar que são bem-vindos;
6 – Nunca elogie aqueles que trabalham. Ainda que eles façam uma excelente programação, concentre-se apenas em achar defeitos e apontar os erros;
7 – Não seja dizimista;
8 – Não ore por sua Igreja e muito menos por seus líderes. Afinal de contas, são eles quem devem orar por você;
Se cada um de nós nos comprometermos a viver integralmente esses mandamentos, em 5 ou no máximo 10 anos, essa Igreja estará completamente destruída.
Rev. Daniel Sampaio Mota

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Como superar a perda

Tema: Como superar a perda
Texto: 2 Samuel 12:15-25

Todos nós já experimentamos a perda. Perda de um ente querido, perda de alguém que se ama, perda de um emprego, perda de dinheiro, perda de amigos. A perda é evento que nos machuca, nos faz sangrar, provoca um sentimento de dor, de falta, de ausência. A perda deixa um buraco em nossa alma, em nossa existência. Guardadas as suas devidas proporções, todos nós já experimentamos, em algum momento, o que é perder. O próprio Deus sabe exatamente o significado dessa palavra. Deus também experimentou o sofrimento. O profeta Isaías, 700 anos antes da vinda do Messias, assim descreveu o Cristo: “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53:3).
O texto em questão é uma referência a um dos episódios mais tristes da vida de Davi. Trata-se do dia em que Davi recebeu a notícia da morte de seu filho. Contudo, esse não é um evento isolado. Além da dor da perda havia ainda o sentimento de culpa e vergonha diante de Deus e de seu povo, pois aquela criança era fruto do adultério de Davi com Bate-Seba. Essa história envolve um dos atos mais escandalosos da Bíblia. Charles Swindoll disse que “nenhum pecado, salvo o de Adão e Eva, recebeu mais publicidade do que o de Davi com Bate-Seba”.
A Bíblia diz que a criança morreu nos primeiros dias após o nascimento. Essa criança não tinha nome, não houve nem mesmo tempo de registrá-la. Ela nasceu enferma. E diante desse quadro, o texto diz que Davi “passou a noite prostrado em terra” (v. 16). Passou a noite de joelhos, orando. Experimente ficar 10 minutos ajoelhados para que você tenha uma pequena noção do que significa passar a noite inteira de joelhos em oração.
A dor se intensifica pela quebra de um princípio natural. A ordem natural da vida é: os filhos enterram os pais. Aqui, entretanto, é o pai que caminha para sepultura a fim de enterrar seu filho. Certa vez um pai, ao ver se deparar com a morte do filho disse: “Eu não vou enterrar meu filho, meu filho é que vai me enterrar”. É indescritível a dor de um pai ou uma mãe que se depara com essa realidade.
O fato se agrava ainda mais porque Davi era o responsável direto pela morte do seu filho. Afinal, o pecado de Davi ocasionou essa tragédia. É difícil entender por que um bebê inocente devesse sofrer pelos pecados dos quais não era responsável. Mas essa é a natureza terrível do pecado. O pecado traz conseqüências desastrosas. Os pecados que você cometeu podem ser perdoados caso haja arrependimento, mas o perdão de Deus não anulará as suas conseqüências. Quantos cônjuges e filhos sofrem terrivelmente por causa do adultério cometido por um pai? O pecado NUNCA é um ato isolado. Quantas pessoas inocentes não são vítimas diariamente de criminosos? Quantas crianças não são vitimadas por erros cometidos por outras pessoas?
Entretanto, o que mais nos chama atenção no texto é a maneira como Davi reage à morte de seu filho. Davi poderia ter mergulhado numa crise espiritual aguda. A depressão poderia tê-lo escravizado. O sentimento de culpa poderia tê-lo feito refém. Sua relação com Deus poderia ter sido afetada, afinal, suas orações não foram atendidas, o seu jejum não surtiu nenhum efeito. Contudo, Davi nos mostra que é possível superar a perda.
Este episódio na vida de Davi nos ajuda a fazer o que é certo quando tudo está errado.

1 – Aceite aquilo que você não pode mudar
Muitos fatos na vida não podem ser mudados.
· Tempo
· O passado
· O fato de uma pessoa ter morrido
Há pessoas que passaram por experiências tão dolorosas em suas vidas que a vida se tornou pior do que a morte. Viver é pior do que morrer. Pessoas que ficam paralisadas. Entregam-se a situação e não conseguem reagir. Davi reagiu de uma maneira totalmente diferente. “Então, Davi se levantou da terra...” (v.20). Por conseguinte, Davi “lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes, entrou na Casa do SENHOR e adorou” (v. 20). Davi percebeu que não poderia ficar a vida inteira de luto. Diante da incapacidade de reverter aquela situação, ele resolve aceitar. Entretanto, o que nos chama a atenção é a maneira como Davi reage. Ele simplesmente muda seu aspecto físico (lavou-se, ungiu-se e mudou de vestes) e vai em direção ao templo do SENHOR para adorar.
Isso é impressionante! Como é difícil adorar a Deus em dias de dificuldade. Como é difícil nos libertar de sentimentos que acorrentam nossa alma. Muitas pessoas sofreram perdas fragorosas e NUNCA conseguiram curar feridas emocionais provenientes da perda. É fato que todos nós gostaríamos de voltar no passado e mudar uma porção de coisas. Todos nós vivenciamos experiências passadas que nos desagradaram profundamente e, por isso, se tivéssemos a chance, voltaríamos e mudaríamos. Falaríamos aquilo que não falamos. Deixaríamos de falar aquilo que de repente falamos. Faríamos aquilo que não fizemos e deixaríamos de fazer uma série de coisas que fizemos. Mas não temos esse poder. O passado é algo que definitivamente não temos poder para mudar.


2 – Não se culpe por algo que Deus já te perdoou

Há três grandes perigos ao lidarmos com a perda:
1 – Culparmos Deus
2 – Culparmos os outros
3 – Culparmos a nós mesmos
A terceira é a mais perigosa de todas elas. Há pessoas que já foram perdoadas por Deus, mas nunca conseguiram se perdoar por erros que cometeram.
Ouvi a história de uma jovem que havia cometido aborto e fora aconselhar-se com o pastor. No meio da conversa ela abriu o coração: “Sei que Cristo me perdoou, mas não consigo me perdoar pelo que fiz!” Quantas pessoas não estão aprisionadas por esse mesmo sentimento. A culpa é um sentimento que nos massacra. Portanto, aproprie-se do sangue de Jesus, receba o perdão de Deus em seu coração e perdoe-se. Não carregue um fardo que não é mais seu. Não há pecado grave o bastante que o sangue de Jesus não possa lavar. Certa vez li o sermão de um pastor com um título bastante sugestivo: 5 Coisas que Deus nunca viu. As divisões do sermão era:
1 – Um doente que Ele não possa curar
2 – Um problema que Ele não possa resolver
3 – Um pecado que Ele não possa perdoar
4 – Um homem que Ele não possa amar
5 – Um pecador que Ele não possa salvar
A culpa é um sentimento que pode te levar à destruição. Portanto, peça perdão a Deus pelo seu pecado e não se culpe por algo que Deus já te perdoou. Peça ao SENHOR que derrame graça sobre a sua vida. Peça ao SENHOR que o sangue de Jesus remova todo e qualquer resquício que o pecado possa ter deixado no seu coração. Clame a Deus para que ele quebre os grilhões emocionais que aprisionam a sua alma. Seja livre!

3 – Não se isole

Há uma tendência natural do homem se isolar em momentos de profunda dor e tristeza. Ao atravessar crises, inúmeras pessoas evitam a companhia de outras pessoas. Isso é um perigo! Confinamento e isolamento são dois ingredientes muito perigosos quando associados a traumas emocionais. A solidão nunca foi uma boa companheira.
Percebendo esse perigo eminente, os amigos de Davi aproximam-se dele. Diz o texto: “Então, os anciãos da sua casa se achegaram a ele...” (v. 17). Alguém já disse que todos nós precisamos de um Gamaliel, de um Timóteo e de um Barnabé. Precisamos de alguém que esteja acima de nós (Gamaliel), alguém que seja uma referência espiritual para nosso crescimento. Precisamos também de alguém que esteja abaixo de nós (Timóteo), alguém que seja nosso discípulo, alguém a quem possamos passar tudo aquilo que aprendemos. Contudo, precisamos ainda de alguém que esteja ao nosso lado (Barnabé), alguém que seja nosso companheiro com quem possamos compartilhar nossas lutas e vitória.
Além da companhia inequívoca de Deus, necessitamos da companhia de amigos fiéis. É impressionante a história do patriarca Jó. Diante da tragédia que o assolava seus amigos apareceram para lhe ajudar a superar a dor. Entretanto, toda tentativa de seus amigos foram frustradas porque passaram a acusar Jó de pecados que ele não havia cometido. Tentavam achar justificativas humanas para responder ao sofrimento de Jó que era da ordem divina. Mas, há um evento, um único momento em que os amigo de Jó de fato foram cúmplices de seu sofrimento. A maior demonstração de amizade que seus companheiros lhe deram está registrado em Jó 2: 13, onde diz: “Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande”. A simples presença dos amigos, mesmo em silêncio, significou muito para o patriarca Jó.

4 – Deixe o seu fracasso no passado e siga em frente

A história registra os esforços de Thomas Edison para inventar a lâmpada elétrica. As suas primeiras 6 mil experiências foram fracassadas. Um dia, quando alguém lhe perguntou se ele estava desanimado, ele disse: “Não, agora estou bem informado de 6 mil maneiras como não se deve fazer o que eu procuro descobrir”.
ILUSTRAÇÃO: Silas Malafaia faliu 6 vezes até constituir uma das maiores editoras evangélicas desse país (Central Gospel). Ele disse que quando foi a falência pela quarta vez, convidou um irmão para entrar em sociedade com ele e alguns membros da Igreja disseram para esse irmão: “Não faça isso, esse Malafaia é um cara amaldiçoado, tudo que ele põe a mão fracassa”.
Briga de casais – “Porque há vinte anos atrás você disse isso, isso e isso...”. A mulher há 20 anos carrega uma mágoa do marido.

5 – Recomece tudo de novo, mas desta vez com a benção de Deus

O desfecho do texto é simplesmente maravilhoso. Diz a Bíblia que “Davi veio a Bate-Seba, consolou-a e se deitou com ela; teve ela um filho a quem Davi deu o nome de Salomão, e o SENHOR o amou. Davi o entregou nas mãos do profeta Natã, e este lhe chamou Jedidias, por amor do SENHOR” (v. 24-25).
Davi decide recomeçar! Mas desta vez tudo o que ele faz, o faz com a benção de Deus. E como conseqüência disso, diz o texto que o SENHOR amou a criança e, após seu nascimento, Davi o entregou nas mãos do profeta Natã num ato de consagração. Aquela criança viria a ser o sucessor de Davi no trono.
Em Deus é possível recomeçar. Nosso Deus é o Deus da segunda chance. Muitas pessoas precisam recomeçar suas vidas. Deixar para trás o passado marcado por frustrações, pesares e pecados. E, com a benção de Deus, construir uma nova história. Muitos casais que precisam recomeçar seu relacionamento conjugal. Tantos outros necessitam reconstruir suas famílias que foram abaladas por erros cometidos.
“Não importa onde você parou
Em que momento da vida você cansou
O que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo”
(Carlos Drummond de Andrade)

Rev. Daniel Sampaio Mota

segunda-feira, 22 de junho de 2009

5 coisas que Deus nunca viu

Li o sermão de um pregador com esse título e achei muito sugestivo. As 5 coisas que Deus nunca viu são:

1 - Um doente que Ele não possa curar
2 - Um problema que Ele não possa resolver
3 - Um pecado que Ele não possa perdoar
4 - Um homem que Ele não possa amar
5 - Um pecador que Ele não possa salvar


Pense nisso!

Rev. Daniel Sampaio Mota

terça-feira, 12 de maio de 2009

Criando filhos para a glória de Deus

Criando filhos para a glória de Deus

Sua família é o maior patrimônio que você possui. Bens, diplomas e sucesso profissional perdem o significado para você sem a felicidade de sua família. Não podemos construir nossa felicidade sobre os escombros da nossa família. É triste perceber que muitas pessoas alcançam grandes vitórias no mundo, nos negócios, na profissão, nos estudos, mas amargam derrotas fragorosas dentro de casa. E o mais terrível desse quadro assustador é que, muitas vezes, o preço que se paga para ser bem-sucedido é abrir mão da família. O preço que se paga para ganhar mais é investir mais tempo no trabalho e dedicar menos tempo para a família.
Em nome do sucesso, muitos pais negligenciam a maior de todas as conquistas – ter uma família feliz. É consensual o fato de desejarmos que nossos filhos cresçam para a glória de Deus. Todo pai e toda mãe deseja ardentemente que seus filhos alcem vôos mais altos do que eles. Os pais desejam ver os filhos numa condição financeira mais abastada do que eles. Isso acontece porque os pais não desejam que seus filhos passem pelas mesmas privações que eles passaram. Por isso, o pai está disposto a pagar o dinheiro que for para garantir que o filho tenha a melhor educação. Por isso, há pais que dão tudo para seus filhos porque quando eram crianças não tinham nada.
É exatamente nessa perspectiva que vale a pena repensar o modelo sobre o qual estamos fundamentando a criação de nossos filhos. A Psicologia, a Pedagogia e tantas outras ciências possuem propostas inovadoras quanto a criação de filhos. Entretanto, nenhuma delas objetivam criar essas crianças com princípios espirituais. Conta-se a história de um homem que tinha cinco teorias diferentes para a criação de filhos. Contudo, ele não tinha nenhum filho. Ao passar do tempo, esse homem teve cinco filhos e depois descobriu que não tinha nenhuma teoria. Essa história ilustra bem a minha realidade, pois, ainda não tenho filhos. Entretanto, o que venho propor não é uma mera teoria. Não trata-se de mais um experimento dentre tantos outros sugeridos por psicólogos, pedagogos ou educadores. O que venho apresentar é mais que uma teoria. Refiro-me a PRINCÍPIOS que são estabelecidos pela Palavra de Deus.
O Deus da Bíblia é um Deus família. Basta olhar para a história da redenção e você perceberá que as alianças constituídas no Antigo Testamento eram alianças familiares. Não apenas o indivíduo era alvo da aliança, mas, por conseguinte, toda a sua família era incluída no pacto. No Éden, Deus fez uma aliança com Adão e Eva (a primeira família). No dilúvio, Deus não apenas salvou o justo Noé, mas, juntamente com ele, toda a sua família (Gn 6:18). Ao entrar em aliança com Abraão, Deus disse: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência (Gn 17:7).
Assim sendo, uma primeira consideração deve ser feita. Nossos filhos pertencem ao SENHOR. Embora o seu filho não saiba, ou mesmo sabendo diga não ser do SENHOR, assim mesmo ele é. A Bíblia chama os filhos de herança do SENHOR (Sl 127:3). O apóstolo Paulo diz que os nossos filhos são santos (1 Co 7:14). Eles são herdeiros da promessa (At 2:39).
Gostaria, ainda, de fazer menção da nossa saudosa irmã Ana Maria, esposa do pastor Jeremias Pereira, que sempre afirmava com muita veemência nos congressos do Desperta Débora: “Nós não criamos filhos para povoarem o inferno. Criamos filhos para serem cheios do Espírito Santo de Deus!”. Essa deve ser a perspectiva sobre a qual todo pai deve criar seu filho. Os pais devem pedir graça, orientação e sabedoria para criarem seus filhos a fim de que eles sejam instrumentos da glória de Deus. Portanto, se desejamos criar filhos para a glória de Deus, seguem abaixo alguns princípios bíblicos que devem nortear a criação dos mesmos.

1 – Ensinando-o no caminho do SENHOR
“Ensina a criança no caminho em que deve andar e ainda quando for velho não se desviará dele”. (Prov. 22:6)
O texto de Provérbios é um texto basilar para a criação de filhos. Entretanto, há algo muito precioso nesta passagem que merece nossa atenção. A ordenança dada pelo autor sacro não é para ensinar o caminho, mas sim ensinar no caminho. Essa diferenciação é muito importante, pois quem ensina o caminho apenas aponta para o destino a ser percorrido, não se comprometendo a caminhar junto. Trata-se mais de um ensino à distância, meramente intelectual e informativo. Contudo, aquele que ensina no caminho também está percorrendo junto o trajeto, ou seja, além de mostrar qual caminho, o educador está comprometido em caminhar junto ao educando. Não trata-se de um ensino puramente informativo, mas, sobretudo, vivencial.
Isso nos leva a considerar alguns postulados muito importantes na criação de filhos:
· Ensinar é muito mais do que levar a criança para a Igreja. O grande pregador norte-americano Billy Graham disse: “Ir à Igreja não fará de você um cristão, assim como dormir na garagem não vai fazer de você um carro”.
· Ensinar é muito mais do que falar sobre Deus. Como você vai falar acerca de quem você não conhece. Como mostrará para o seu filho que Deus é bom se você jamais experimentou a bondade de Deus em sua vida.

Os puritanos do século XVII tinham uma prática muito interessante. Quando notavam que uma determinada criança não estava crescendo no conhecimento das Escrituras, eles disciplinavam os pais por entenderem que os pais eram os responsáveis pela ignorância da criança acerca do conhecimento de Deus. Imagine quantos pais seriam disciplinados se a Igreja contemporânea resolvesse adotar tal medida.
A palavra hebraica traduzida como ensino é chinuch. Significa muito mais do que simplesmente educação no sentido de dar à criança fatos e números a serem assimilados. Chinuch significa moldar o caráter da criança e guiá-la, passo a passo, pelos caminhos que a ajudarão a torná-la uma pessoa íntegra e um bom judeu em sua totalidade.

Os comentaristas bíblicos afirmam que Jesus se utilizava do método peripatético de ensino. A palavra peripatético é uma palavra grega que significa “ambulante”, “itinerante”, ou mesmo “aqueles que passeiam”. O método peripatético pode ser assim definido: “Ensinar enquanto se caminha junto”. Trata-se de um ensino que é fruto de um relacionamento. É a arte de ensinar ao ar livre. Na época de Jesus se alguém desejasse se tornar aluno de algum mestre em Israel, tal pessoa deveria estar disposta a seguir seu mestre. Pois, a medida que o mestre caminhava ele ia ensinando. Portanto, o ensino proposto por Jesus é muito diferente da idéia que concebemos de aprendizagem. O ensino de Jesus não está limitado a prescrições frias, mas a um estilo de vida. O preceito acima já estava contemplado na Lei de Moisés. Senão, vejamos: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (Dt. 6:6-9, grifo meu).
Outro aspecto que merece nossa atenção é: só se ensina aquilo que se sabe. Logo, se o Pai não conhece as Escrituras, como ensinará o seu filho acerca do Reino de Deus? Assim sendo, o pai deve ser um profundo conhecedor das Escrituras a fim de transmitir ao seu filho o conhecimento de Deus.

2 – Sendo um modelo
Aqui reside um outro perigo. O perigo de conhecer, ensinar, mas não viver nada daquilo que se ensina. O pai é um espelho psicológico que o filho usa para construir sua própria identidade. A Psicologia já desvendou alguns mistérios que cercam a nossa formação. Afirma os psicólogos que o caráter e a personalidade da criança vão sendo formada a partir das suas relações familiares. Assim sendo, a família é a base para o desenvolvimento saudável da criança.
Há ainda que se considerar que a criança, no processo de construção da sua psique, não tem capacidade de conceber aquilo que é abstrato. Por isso, ela dificilmente vai conseguir entender a idéia de um Deus invisível. Por isso, nós criamos links para que as crianças comecem a entender quem é Deus e o que Ele faz. Sabe qual é a primeira figura que associamos a Deus? A criança aprende, primeiramente, que Deus é o “Papai do Céu”. Assim, o pai torna-se a referência para que a criança aprenda sobre Deus. Se o pai é um homem agressivo, punitivo e autoritário, qual será a concepção que essa criança terá de Deus? Se o pai for um alguém sem caráter, mentiroso, que não cumpre com suas promessas, possivelmente, será essa a associação que a criança fará com o “Papai do Céu”. Seu filho aprenderá sobre Deus observando você!
Há alguns anos venho trabalhando na Igreja, especificamente, com jovens e adolescentes. Um dia conversando com uma jovem, fui surpreendido com um a resposta que obtive ao fazer-lhe uma pergunta. Ao ser indagada sobre sua expectativa acerca do casamento, ela respondeu: “Casar para quê? Para ser infeliz igual a meus pais?”. Aquela jovem via o casamento como uma frustração porque o relacionamento dos seus pais era um péssimo exemplo de convivência familiar. Ensinar é mais do que transmitir conhecimento. É preciso estabelecer um ensino baseado não apenas no discurso, mas num modelo de vida. Ensinamos mais com a vida do que com as palavras. Alguém já disse que as palavras ensinam, mas o exemplo arrasta.
O maior e o mais poderoso método de ensino é o exemplo. Jesus ensinava através do exemplo (Jo 13:15). Jesus nunca pediu aos seus discípulos que fizessem algo que Ele mesmo não tivesse feito. Jesus nunca pediu aos seus discípulos que vivessem algo que ele mesmo não tivesse vivido. O apóstolo Paulo também compreendeu essa verdade ao afirmar: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Co 11:1). A grande queixa de Jesus contra os fariseus era o seu estilo de vida hipócrita. Disse Jesus: “Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem” (Mt 23:2, 3, grifo meu). Somente neste capítulo (Mateus 23) Jesus chama sete vezes os escribas e fariseus de hipócritas. A palavra hipócrita remonta o período da Grécia Antiga, onde alguns artistas faziam encenações artísticas de peças teatrais. Assim, o artista na Grécia era chamado de hipócrita, pois sua função era representar alguém que ele não era. E, para desenvolver seu papel, usava máscaras diante da platéia. Ao fazer uso dessa palavra Jesus está afirmando que os fariseus viviam uma vida de encenação, pois representavam ser aquilo que, realmente, não eram. Usavam máscaras e arquétipos, mas os seus corações eram corruptos e malignos. Eram artistas.
Eugene Peterson, em seu livro Um Pastor segundo o Coração de Deus, também faz coro às palavras de Jesus denunciando os pastores da pós-modernidade:
"Não conheço outra profissão em que seja tão fácil fingir como a nossa. Existem comportamentos que podemos adotar para sermos considerados, sem nenhum questionamento, conhecedores de mistérios: ter um porte reverente, cultivar uma voz empostada, introduzir em nossas conversas e palestras palavras eruditas em quantidade suficiente apenas para convencer os outros de que nosso treino mental está um pouco acima do que o da congregação"[1].
É preciso resgatar a integralidade da mensagem, onde o discurso e a vida se coadunem. Jesus nos mostra que o exemplo é a única base do verdadeiro discipulado. É vendo você orar que seu filho aprenderá a orar. É vendo você lendo as Escrituras que seu filho aprenderá a importância da Palavra de Deus. É percebendo a sua comunhão e intimidade com Deus que seu filho aprenderá a amar, temer e reverenciar o SENHOR. Você é um espelho para o seu filho e sua imagem será refletida nele.

3 – Disciplinando-o no temor do SENHOR

A disciplina é uma orientação bíblica. A Bíblia afirma que o próprio Deus “corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12:6). O autor de Hebreus continua: “É para a disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se tem tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12:7-8). Deus é o maior exemplo de pai e, por conseguinte, o maior paradigma de educador. Na pedagogia de Deus um dos princípios para a educação é a disciplina.
Uma das maiores dificuldades que os pais enfrentam é disciplinar seus filhos. Dizer não tornou-se uma dura tarefa para muitos pais. Ninguém gosta de receber um “NÃO” como resposta. Essa é exatamente a típica resposta que nos contraria. Isso porque se trata de uma negativa quanto à realização de nossos anseios e aspirações. Assim, sempre que pedimos algo, esperamos receber um “SIM”, para que tenhamos nossas vontades saciadas. Entretanto, nem sempre temos aquilo que queremos. Nem sempre recebemos aquilo que pedimos. Nem sempre conquistamos aquilo que tanto sonhamos. É mister aprendermos a receber “NÃO”. E, no que tange à criação de filhos, é importante que o pai saiba dizer “NÃO” ao seu filho.
Imagine se para tudo que teu filho te pedisse você dissesse “Sim!”. Seria trágica a educação de seus filhos. Essa criança cresceria sem limites. E, se há uma crise instituída na nossa sociedade é ausência de limites. A Psicologia afirma que o “Não!” protege, ensina e prepara. Imagine se você permitisse ele comer doces e guloseimas sempre que ele deseja. Por que, em determinadas ocasiões, você diz “NÃO” ao seu filho? Simplesmente porque sua saúde seria comprometida. Ele não sabe o que é melhor para ele, mas você, como pai ou mãe, sabe exatamente do que seu filho precisa. Por isso, você dá a ele, inclusive, aquilo que ele não deseja, como verduras e legumes. O próprio Deus não nos concede tudo aquilo que pedimos. Deus é Pai por excelência. E, como um bom Educador, Ele diz “NÃO” a muitas solicitações que lhe fazemos. Apenas para que você tenha uma idéia do que estamos falando, uma pesquisa exaustiva nas Escrituras registrou que a palavra SIM está registrada 462 vezes na bíblia enquanto a palavra NÃO tem 8.409 registros. Portanto, aprenda a dizer “NÃO”para o seu filho.
O livro de Provérbios traz inúmeras afirmações que corroboram para o bem que a disciplina promove na criação de filhos. Senão, vejamos:
“Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29:17).
“O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13:24).
“Castiga o teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo” (Pv. 19:18).
“A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 22:15).
“Não retires da criança a disciplina” (Pv 23:13a).
“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe” (Pv 29:15).

Os filhos precisam de limites e os pais desempenham o papel de impô-los. A Bíblia está repleta de exemplos de famílias que foram destruídas porque os pais não disciplinaram seus filhos. Deus destruiu a casa de Eli porque este sacerdote não disciplinou os seus filhos (1 Sm 3:13). O grande rei Davi, um homem segundo o coração de Deus, se deparou com a morte de seus filhos porque não os repreendeu (2 Sm 13 e 2 Sm 18).
É importante estabelecer uma distinção entre disciplina e castigo. Castigo provém do latim castus, que significa puro, casto, e está correlacionado com a castidade. Assim, o castigo era uma punição rigorosa que se impunha sobre aquele que desejava viver uma vida pura. Portanto, o castigo não tem uma função meramente punitiva, mas serve a um propósito maior que é aperfeiçoar aquele a quem se submete o castigo. Já a disciplina está intimamente ligada a um estilo de vida pautada em princípios de ordem, obediência e reverência. Esses dois elementos devem estar presentes na criação de nossos filhos. A disciplina é um ato de amor e o pai que negligencia este instituto ao seu filho lhe causará grandes danos no futuro. O Rev. Hernandes Dias Lopes afirmou: “Se o nosso cristianismo não é capaz de mudar o nosso relacionamento com nossa família, ele está falido” .

4 - Seja um intercessor do seu filho

Sempre haverá esperança para família onde houver uma mãe que ora. Sempre haverá esperança para a família onde houver um pai comprometido em interceder por seus filhos. Antes de falar de Deus para nossos filhos, precisamos falar de nossos filhos para Deus.
Jó era um pai exemplar nessa matéria. Diz a Bíblia que “Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1:5, grifos meu). Algumas considerações devem ser feitas. Primeiramente, o texto registra que Jó “chamava seus filhos e os santificava”. Perceba a diferença que faz a liderança espiritual do pai dentro de casa. Isso é um pai de verdade, no sentido estrito da palavra. Jó estava preocupado não apenas com educação de seus filhos; não apenas com a provisão de seus filhos; mas, sobretudo, profundamente preocupado com a vida espiritual de seus filhos. Antes de preocupar-se com a escola do seu filho, que faculdade ele vai fazer, em que área ele vai trabalhar, preocupe-se em ter um filho santo. Faça como Jó: CHAME O SEU FILHO e o SANTIFIQUE. Coloque suas mãos sobre a cabeça dele e consagre-o ao SENHOR.
Em segundo lugar, diz o texto que Jó “levantava-se de madrugada” com o propósito de colocar os seus filhos diante do altar. Eis aqui a figura de um pai intercessor. Qual foi a última vez que você orou por seus filhos de madrugada? Jó, além de ter um momento de oração com os filhos, tinha também um momento secreto onde ele, sozinho, apresentava seus filhos a Deus. O texto ainda registra que “oferecia holocaustos segundo o número de todos eles”, ou seja, não havia um filho sequer que Jó deixasse de orar. Não havia predileções. Jó não ponderava se este filho dava mais trabalho do que aquele ou se aquele outro era mais bonzinho e obediente que o primeiro. Definitivamente, não havia este espírito no coração de Jó. Diz o texto que ele apresentava seus filhos individualmente a Deus.
Em terceiro lugar, podemos destacar a regularidade com que Jó fazia isso. A palavra empregada pelo autor sacro é “continuamente”, dando a idéia de uma prática freqüente e ininterrupta. Jó sempre apresentava seus filhos diante do altar do Senhor. Não desista nunca de orar para o seu filho. Se ele está no mundo ore por ele; se ele já é um servo do SENHOR, continue orando por ele. Ore sempre. Os seus filhos devem ser o primeiro item da sua lista de oração.

Conclusão
Deus lhe deu uma grande tarefa – a incumbência de criar seus filhos para a glória dEle. Portanto, para lograr êxito, você precisa lançar mão de todos os meios e recursos disponíveis. Dedicar o melhor do seu tempo. Gastar horas em oração, aconselhamento e convivência com os seus filhos. Investir seus melhores momentos na formação do caráter dos seus descendentes. Deus é o paradigma de pai para todos nós. E Ele nos deixou um manual para a criação de filho – a Bíblia Sagrada. Portanto, todos os princípios necessários para uma boa educação estão registrados na Escritura. Torne-se um conhecedor da Palavra para que, através dela, você obtenha sabedoria necessária para transmitir a fé aos seus filhos.
O salmista registra: “O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez. Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhes observassem os mandamentos” (Sl 78:3-7). O pai tem a responsabilidade de transmitir ao seu filho a herança da fé.
Se você fracassar como presbítero fique tranqüilo, a obra de Deus não vai parar, Deus levantará outros para substituir você. Se você fracassar como diácono fique tranqüilo, a obra de Deus vai continuar porque Deus levantará outro para substituir você. Se você fracassar como líder de qualquer departamento da Igreja, a obra vai continuar porque Deus levantará outro para ocupar o seu lugar. Mas se você fracassar como pai, não há ninguém que Deus possa colocar no seu lugar. Essa é uma tarefa exclusivamente sua. Ninguém pode te substituir como pai, como esposo e como líder espiritual da sua casa. Se você fracassar como pai, toda a sua família estará comprometida.

[1] PETERSON, Eugene. Um Pastor Segundo o Coração de Deus: a forma da integridade pastoral. Traduzido por Cláudia Moraes Ziller – Rio de Janeiro: Textus, 2000, p. 5.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um exemplo a não ser seguido

Um exemplo a não ser seguido

“Os pecados da liderança são mais graves, mais hipócritas e mais danosos. Mais graves porque o líder peca contra o maior conhecimento. Mais hipócrita porque o líder denúncia o pecado em público e o comete em secreto. E mais danosos porque o líder quando cai sempre conduz outros a queda”
(Richard Baxter, século XVII).

A família de Eli é um exemplo de uma família que tinha tudo para dar certo, mas desintegrou-se. Eli era um homem respeitadíssimo nos seus dias. Era sacerdote e juiz de Israel. Ocupava duas posições da mais alta relevância. Como sacerdote ele era o líder espiritual do seu povo. Como juiz ele era o líder político da nação. Seus filhos tinham tudo para ser uma benção. Contudo, a Bíblia diz que eles eram uma maldição.
Esse homem foi um sucesso no seu trabalho, mas uma tragédia como pai. Esse homem era um colosso como líder de Israel, mas negligente com suas principais ovelhas – sua própria família. E há algo muito importante que deve ser examinado na vida de Eli. Ao nos depararmos com as duas severas admoestações que Deus faz ao sacerdote, o SENHOR não está advertindo-o por algo que ele tenha feito. Antes, Deus está exortando-o por algo que ele não fez (2:29; 3:13). Assim sendo, pode-se concluir que o pecado de Eli era a omissão.

Nós daremos conta diante de Deus não apenas por aquilo que fazemos, mas, também por aquilo que deixamos de fazer. O apóstolo Tiago nos advertiu: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o fez, comete pecado” (Tg 4:17). Portanto, quando você sabe da necessidade de um irmão e, por conseguinte, tendo condições de sanar o problema do referido irmão, você se omite, tal postura configura um pecado. Outro texto que merece nossa atenção diz respeito a Mateus 25:14-30. Na parábola dos talentos, qual o motivo da ira do SENHOR sobre aquele que enterrou o seu talento? Ele fez alguma coisa? O contrário! A ira do SENHOR justifica-se exatamente porque ele deixou de fazer. Quando você tem um dom dado por Deus (seja cantar, servir, contribuir, etc.) e você não o usa para a glória de Deus, nisso você está pecando.
O padre Antônio Vieira, um dos maiores paladinos da evangelização no Brasil, disse que “omissão é o pecado que se faz não fazendo”. No direito, omissão é a conduta pela qual uma pessoa não faz algo a que seria obrigada a fazer dada a circunstância. No direito Penal, a omissão constitui um crime passivo de pena. (ex.: omissão de socorro). Se na esfera humana a omissão representa um crime, imagine o que ela representa na esfera espiritual. Se para os homens a omissão é algo inaceitável, o que dirá para Deus.
A história de Eli ganha fôlego em muitos lares evangélicos. É notório o drama que muitos pais cristãos enfrentam com seus filhos. Enquanto eles estão no templo, os filhos estão no mundo. Enquanto os pais buscam a Deus, os filhos buscam a satisfação de seus próprios prazeres nos banquetes promovidos por satanás. Os números confirmam ainda mais essa realidade. Uma pesquisa realizada recentemente no CAJE constatou que 70% dos jovens e adolescentes que estão ali cumprindo medidas sócio-educativas são oriundos de lares cristãos. Nesse sentido, a vida de Eli torna-se um modelo de pai a não ser seguido. A Bíblia está repleta de exemplos. Exemplos bons e maus. Exemplos a serem seguidos e exemplos a serem rejeitados. Assim, a vida de Eli torna-se o modelo de um pai que não devemos ser.

1 – Eli cuidava dos outros, mas não cuidava da sua própria família
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (I Tm 5:8).
Eli era um especialista em resolver problemas. Os dois cargos que ele exercia fez dele um perito nessa área. Como juiz, ele se ocupava em resolver litígios, brigas e demandas sociais. Como sacerdote, ele se ocupava em resolver problemas de outra esfera, ou seja, problemas da ordem espiritual. Assim, ele era um homem que sabia exatamente o caminho para a solução. Afinal, seu dia inteiro era dedicado a cuidar dos interesses de outras pessoas. Entretanto, Eli foi incapaz de resolver o maior de todos os problemas. Enquanto ele cuidava dos outros, a sua família foi esquecida. Enquanto todas as suas energias eram dispensadas em resolver problemas alheios, um enorme problema eclodiu no seu lar. O sacerdote Eli pastoreava todos, menos sua própria família.
A crise vivida por muitos adolescentes justifica-se porque ele passou a infância inteira acreditando que o pai era um herói e quando chegou à idade da razão descobriu que o pai não era nada daquilo que ele imaginava ser. Você precisa continuar sendo um herói para o seu filho. O seu filho, mesmo após crescer, precisa continuar vendo em você um referencial de vida. Hoje há uma crise de referenciais. Inúmeros jovens ou mesmo adolescentes quando são indagados acerca de casamento, prontamente, respondem: “Eu não quero casar para ser infeliz como os meus pais!”. Essa é uma triste realidade. A própria casa tornou-se uma referência negativa.
O contrário também é verdadeiro. Conheci uma moça que iria se casar e, por conta disso, sua mãe havia se disposto a dar-lhe uma série de conselhos e recomendações. Ao final da conversa, após ouvir atentamente cada palavra que sua mãe lhe dissera, a moça disse: “Mãe, se eu for pelo menos metade da mulher que a senhor foi, tenho certeza que minha felicidade está garantida!”. Aquela senhora era um modelo para sua filha. Era mais que uma mãe, era um exemplo de esposa, de educadora, de conciliadora e, sobretudo, um exemplo de mulher.
O maior presente que você pode dar ao seu filho é amar a mãe dele. Não há nada que afete mais significativamente uma criança do que um ambiente permeado por amor e afeto.

2 – Eli era famoso fora dos portões, mas não tinha autoridade dentro de casa
Era admirado pelas pessoas de fora, mas não era admirado pelos seus filhos. Era um líder descomunal no seu trabalho, mas alguém sem nenhum prestígio dentro de casa.
Essa era a mesma frustração vivida pelo grande general de guerra Naamã. Assim a Bíblia registra: “Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era grande homem, diante do seu senhor e de muito conceito, porque por ele o SENHOR dava vitória à Síria; era ele herói de guerra, porém leproso” (II Reis 5:1). Na rua Naamã era visto como um guerreiro vencedor, vestindo a sua indumentária de herói, uma armadura típica de um general. Alguém imponente, respeitado e admirado pelos de fora. Mas dentro de casa, quando tirava a sua capa, despido de sua armadura, não passava de um leproso.


3 – Eli havia se acostumado com o sagrado

“E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel?” (2:29).
Para entendermos melhor o significado desse texto, é preciso que recorramos ao funcionamento do serviço prestado pelo sacerdote ao povo. Primeiramente, devemos considerar que os sacerdotes viviam do serviço sacerdotal. Assim, parte das ofertas trazidas pelo povo eram destinadas a subsistência dos próprios sacerdotes. Entretanto, a Bíblia diz que os filhos de Eli haviam ignorado essa ordenança e estavam profanando o altar do SENHOR, pois eles se apropriavam daquilo que não era deles, mas do SENHOR (2:12-17). E por que eles faziam isso? Diz a Bíblia que eles “não se importavam com o SENHOR” (v. 12). Em um vocabulário mais popular, eles não davam a mínima para Deus.
Há ainda um texto que devemos considerar. O profeta Oséias foi levantado por Deus para advertir o povo acerca da sua transgressão. Contudo, há uma forte admoestação de Deus para os seus sacerdotes. Senão, vejamos: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. Quanto mais estes se multiplicaram, tanto mais contra mim pecara; eu mudarei a sua honra em vergonha. Alimenta-se do pecado do meu povo e da maldade dele têm desejo ardente. Por isso, como é o povo, assim é o sacerdote; castigá-lo-ei pelo seu procedimento e lhe darei o pago das suas obras” (Oséias 4:6-9).
A tendência de muitos cristãos é parar na primeira sentença do versículo 6. Entretanto, a chave hermenêutica para entendermos o real significado de tal afirmação está nos versos seguintes. Por que o povo estava sendo destruído? A resposta é clara: por falta de conhecimento. Outra pergunta deve ser feita: Qual a única maneira de se remir um pecado no Antigo Testamento? Através do sacrifício de animais, ou seja, através de uma oferta pelo pecado. Por isso, o sacerdote era um grande interessado no pecado do povo, pois quanto mais o povo pecava, mais sacrifícios haveria. E, havendo mais sacrifícios, mais ele ganhava. Essa era a dinâmica que havia se instituído no templo na época do profeta Oséias. Por isso Deus diz: “Alimentam-se do pecado do meu povo”. O pecado havia se tornado uma fonte de lucro.
Esse era exatamente o drama que envolvia Hofni e Finéias. O pecado do povo havia se tornado a fonte de lucro para eles. A Bíblia registra que o próprio Deus disse a Samuel que eles “se fizeram execráveis” (v. 13). A palavra execrável é sinônima da palavra abominável. Perderam completamente a sensibilidade. Suas mentes estavam cauterizadas. Estavam no templo, mas estavam desviados. Estavam diante do altar, mas com o coração longe de Deus. Estavam fazendo a obra de Deus, mas mergulhados na lama do pecado. Para Deus, ser é mais importante do que fazer. Deus não está preocupado com o que você faz, mas, sobretudo, com quem você é.
Não há perigo maior do que esse! Acostumarmo-nos com as coisas de Deus. Vir ao culto já não é mais empolgante, ler a Bíblia já não é mais empolgante, orar já não é mais empolgante. Banalização daquilo que é santo. É a própria secularização do divino.

4 – Eli aceitou passivamente a decretação da derrota em sua família.
“Então, Samuel lhe referiu tudo e nada lhe encobriu. E disse Eli: É o SENHOR; faça o que bem lhe aprouver” (3:18). A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz assim: “Faça Deus o que achar melhor”.
Essa frase proferida pelo sacerdote Eli indica sua rendição. Sua omissão o levou a passividade – aceitou a decretação da derrota dentro de sua casa. O juízo sentenciado por Deus deveria tê-lo conduzido às lágrimas. Entretanto, ele aceita a derrota. Eli aceitou passivamente a decretação da derrota sobre a sua casa. Ele não reagiu. Ele não clamou por misericórdia. Ele não orou. Ele, simplesmente, entregou os pontos.
Não há nada mais triste do que isso. Ver um pai desistindo dos seus filhos é algo deplorável. O silêncio de Eli dentro de casa foi a sua própria condenação. Luther King, em um de seus discursos, afirmou: “O que me preocupa não é o barulho dos violentos e sim o silêncio dos justos”. Eli se calou quando deveria ter gritado. Ele ficou parado quando deveria ter agido. Ele se rende quando deveria ter lutado pela sua família e salvação de seus filhos.
Não entregue os pontos! Não desista! Não abra mão da sua família! Você não gerou filhos para a morte. Você não gerou filhos para o cativeiro. Ore, lute, chore e jejue pela salvação dos seus filhos.

Conclusão
Um dos mais conhecidos pregadores da Inglaterra foi Richard Baxter. Quando jovem foi chamado a pastorear uma grande igreja, cujos membros eram ricos e instruídos. Achou-os, porém, frios e carnais. Por isto, ficou desapontado e deixou-se levar pelo desânimo. No auge da crise, declarou: “O único meio de salvar a Igreja é estabelecer a religião nos lares, e levantar o altar familiar”.
Passou três anos visitando casas e estabelecendo o culto doméstico. Seus esforços foram coroados com êxito. E, assim, o culto doméstico serviu de base a um movimento que trouxe à Igreja milhares de pecadores.
Essa é realmente a maior necessidade da Igreja contemporânea. Erguer o altar dentro do ambiente familiar é uma necessidade real e urgente.
Rev. Daniel Sampaio Mota

quinta-feira, 9 de abril de 2009

As últimas lições do discipulado

As últimas lições do discipulado
João 13:1-17

Introdução
O que você faria se soubesse que morreria amanhã? O que você falaria para as pessoas que te cercam se soubesse que aquelas seriam suas últimas palavras? Quais seriam seus atos se soubesse que seriam seus últimos gestos? Se você fosse um pregador, qual seria o seu último sermão? Essa era exatamente a condição de Jesus. Diz a Bíblia que “sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai...” (v.1). Sendo Deus e gozando de atributos divinos como a onisciência, Jesus sabia exatamente o que o aguardava ainda aquela noite. Ele sabia que horas depois seria traído, entregue aos principais sacerdotes e abandonado pelos seus discípulos. Por isso, aquelas eram horas preciosas. Com certeza muito havia a ser dito. Muitas palavras a serem proferidas. Muitos conselhos a serem dados. Inúmeras recomendações a serem feitas. Entretanto, naquela noite memorável, Jesus abre mão do discurso e lança mão do exemplo. Ele não fala, ele age. Ele não prega um sermão, ele vive a pregação.
É muito sugestivo o texto iniciar dizendo “Ora, antes da Festa da Páscoa...” (v. 1), porque a Páscoa torna-se o cenário sobre o qual esse evento acontece. Isso não é por acaso. Não se trata de uma data acidental. Pelo contrário, todas as coisas obedeciam ao relógio de Deus. A palavra páscoa significa passagem. A instituição da páscoa remonta a saída do povo do Egito para a Terra Prometida. Nesse sentido, a páscoa simbolizava a passagem do povo de uma condição de escravidão para a liberdade. Assim sendo, a páscoa do Antigo Testamento e do Novo Testamento tem o mesmo sentido, mas dimensões diferentes. No Antigo Testamento, a Páscoa simbolizava a libertação física do povo, ou seja, a escravidão e o jugo a que os hebreus estavam submetidos pelos egípcios havia terminado. No Novo Testamento, a páscoa também simboliza a libertação. Contudo, agora, com uma dimensão espiritual. Aquele que era escravo do pecado, sentenciado ao juízo divino, agora está liberto através do sacrifício vicário de Jesus.
O ministério terreno de Jesus durou três. E, neste interstício, os discípulos tiveram a grande oportunidade de conviver diariamente com o Mestre. Três anos ouvindo suas pregações, preleções e estudos bíblicos. Este foi, com certeza, o maior seminário teológico já fundado na história do cristianismo. Esse seminário era composto de apenas doze alunos e um único professor – o próprio Deus, Jesus de Nazaré. Os discípulos testemunharam diversos milagres: curas, libertações e até ressurreições.
Durante esse período, os apóstolos participaram da intimidade de Jesus. Entretanto, o texto sugerido nos mostra que o período de formação estava chegando ao fim. Após três anos de muito aprendizado, os seminaristas estavam prestes à ordenação. O evento narrado pelo evangelista João remonta a noite de quinta-feira, data em que Jesus seria entregue aos principais sacerdotes. Portanto, o texto relata os últimos momentos de Jesus com os seus discípulos. E é exatamente para essa noite que Jesus havia reservado as últimas lições do discipulado. Passemos a examinar as últimas lições de Jesus:

I – Lição do Amor (v. 1)
O texto diz que “tendo Jesus amado os seus, amou-os até o fim”. É um amor sem limites, um amor levado às últimas conseqüências. O escritor Philip Yancey afirma que Deus se assemelha a um pai cego de amor por seu filho, alguém disposto a dar sua própria vida. É um amor sacrificial. Max Lucado, certa vez, lançou a seguinte pergunta: “Sabe por que Jesus morreu na cruz?” Ele mesmo responde: “Porque Deus não se imaginava passar a eternidade sem você!”. Assim, Jesus transmite aos seus aspirantes ao ministério pastoral que é absolutamente impossível ser pastor sem amar. O amor é uma condição imprescindível para o exercício do ministério. O jovem pastor batista Martin Luther King disse: “Aprendemos a nadar como os peixes; a voar como os pássaros; mas, ainda não aprendemos a amar o próximo.
Outro ponto que merece destaque diz respeito ao amor incondicional de Jesus. Somos amados não pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Não é um amor baseado numa relação de troca ou barganha. Philip Yancey diz que “não há nada que eu possa fazer para Deus me amar mais; não há nada que eu possa fazer para Deus me amar menos”. Não há nada nesse mundo que abale o amor de Jesus. Jesus amou todos, inclusive Judas.
Judas era um homem acima de qualquer suspeita. Ao contrário do que se pensa, ela era um homem de extrema respeitabilidade no colégio apostólico. Judas era o único discípulo de Jesus que era da Judéia. Todos os outros eram da Galiléia. Assim, Judas gozava de um status mais elevado, porque os judeus provenientes da Galiléia eram considerados impuros, enquanto os judeus da Judéia eram considerados mais devotos, consagrados e justos. A Galiléia era tida como uma terra imunda, porque estava cheia de gentios. Outro aspecto a ser considerado acerca de Judas Iscariotes diz respeito a posição que ocupava dentre os apóstolos. Ele era o único que tinha um cargo e, por sinal, um cargo de confiança. Ele era o tesoureiro do grupo. O único cargo disponível era ocupado por ele.
O texto diz que Jesus lavou os pés de todos os discípulos, inclusive os pés de Judas. Jesus está lavando os pés daquele que, naquela mesma noite, iria traí-lo. Judas era considerado amigo de Jesus. A Bíblia diz que quando Judas se aproximou de Jesus no Getsêmani acompanhado dos guardas e fariseus que prenderiam o prenderiam, Jesus lhe perguntou: “Amigo, para que vieste?” (Mt. 26:50). Max Lucado diz que “a traição é um ato que só um amigo pode cometer”. O inimigo não pode trair porque, para haja traição, é preciso que aconteça entre duas pessoas próximas, amigas e que guardam uma relação de confiança. Jesus nunca considerou Judas como seu inimigo. Pelo contrário, Judas fazia parte do seleto grupo de amigos de Jesus – os 12 discípulos.

II – Lição de Humildade (v. 4-5).
A Bíblia diz que o primeiro ato de Jesus foi “tirar a sua vestimenta” (v. 4). Por que Jesus se despiu da sua roupa? Porque a roupa diz muito acerca de quem nós somos. Há uma máxima contemporânea que diz “você é aquilo que você veste”. A roupa identifica a posição ou mesmo a função que alguém exerce na sociedade. Através da roupa sabemos, claramente, se a pessoa é rica ou pobre. Se é alguém importante ou uma pessoa simples. Isso se deve porque o vestuário indica status. É exatamente por isso que muitas pessoas estão dispostas a pagar R$300,00 reais numa calça jeans. Não se trata daquilo que ela faz (vestir), porque isso qualquer calça faz, mas sim o que ela representa. A roupa é um símbolo de poder. A roupa é um estereótipo que não tem apenas a função de vestir, mas, sobretudo, de caracterizar. A própria vestimenta de Jesus era uma veste utilizada tipicamente por rabinos e mestres da Lei. Era uma roupa valiosa, por isso, após a sua crucificação os guardas lançaram sortes para decidir sobre quem ficaria com suas vestes (Lc 23:34).
Por que Jesus fez isso? Uma excelente maneira de aprendermos acerca de um tema é esgotarmos o que a Bíblia diz sobre determinado assunto. Nesse sentido, é interessante notar que esse evento de lavar os pés é narrado apenas pelo evangelista João. Entretanto, a última ceia é narrada pelos outros evangelistas. O evangelista Lucas, por exemplo, narra um evento muito intrigante que sucedeu durante a última ceia. O capítulo 22 de Lucas é um texto paralelo ao capítulo 13 do Evangelho de João. Portanto, os eventos que acontecem em Lucas 22 são os mesmos que acontecem em João 13. Assim sendo, Lucas narra que durante a ceia os discípulos começaram a debater entre si qual deles seria o maior (Lc 22:24). Alguns comentaristas dizem que foi exatamente no meio dessa discussão que Jesus se levanta e se despoja de sua túnica, ensinando aos seus discípulos o verdadeiro sentido de grandeza no Reino de Deus. Bill Hybels afirma que, para ser grande no Reino de Deus, o cristão deve crescer para baixo. É um crescimento que nos leva a pequenez. No Reino de Deus ninguém sobe degraus rumo à ascensão. A ascensão é a diminuição.
O texto afirma que Jesus tomou uma toalha, deitou água na bacia e passou a lavar os pés dos discípulos. A atitude de Jesus era uma prática comum no Oriente Médio. As ruas não eram pavimentadas e, por isso, as pessoas sujavam muito os seus pés ao caminharem pelas ruas da cidade. Além do mais, o calçado utilizado por todos eram sandálias abertas que propiciavam o contato direto dos pés com a poeira. Assim, quando alguém oferecia um banquete com o intuito de receber convidados importantes, colocava um escravo na porta da entrada para lavar os pés daqueles que chegassem para a refeição. Como pode se observar, Jesus assume uma postura de um escravo.
Lembremo-nos ainda que Jesus é Deus, e, como tal, encontra-se despido de sua glória, envolto em uma toalha, de joelhos, lavando os pés de pecadores. Agostinho dizia que a qualidade indispensável para um verdadeiro cristão é a humildade. Jesus ensina aos seus seminaristas que o exercício do ministério pastoral necessita de pessoas humildes. A palavra humildade é tapeinós (grego), de onde se origina a palavra tapete. Ou seja, a raiz da palavra humildade sugere alguém que está disposto a ser pisado e humilhado. É bom recordar que, anos antes desse evento, o profeta João Batista havia dito que ele não era digno nem mesmo de desatar as sandálias de Jesus (Mc 1:7). No entanto, Jesus, o Deus encarnado, ajoelha-se diante de seus discípulos e, não apenas desata as correias de suas sandálias, mas, ainda, lava os seus pés.

III – Lição de Serviço (v. 14-16).
Jesus mostra aos seus seminaristas que ser pastor é, antes de tudo, ser um servo. Ele conclama os seus apóstolos a se despirem da indumentária eclesiástica e assumirem a forma de um serviçal. Como filhos de Deus, somos chamados a frutificar. O grande pregador e avivalista do século XIX, Dwight L. Moddy, afirmou com muita propriedade: “Ore, como se tudo dependesse de Deus; trabalhe, como se tudo dependesse de você!”. O próprio Moody, ainda, afirmou: “Ser cristão não exige muito de uma pessoa, exige tudo”. O SENHOR nos chama ao serviço e às boas obras.
Conta-se que, certa vez, um jovem viu o árduo trabalho feito pela Madre Tereza de Calcutá junto aos leprosos. Um trabalho árduo, difícil e sem nenhum prestígio nem reconhecimento. Ao presenciar o trabalho da devota freira, ele exclamou: “Eu não faria esse trabalho nem por um milhão de dólares!”. A freira respondeu: “Eu também não!”. Ele perguntou: “Então, por que a senhora o faz?” Madre Tereza, prontamente, lhe respondeu: “Por amor!”.
É curioso saber que o último sermão do grande expositor bíblico John Stott, em 17 de julho de 2007, na Inglaterra, teve o seguinte tema “Tornando-nos mais semelhantes a Cristo”. E no decorrer de sua mensagem, um dos textos examinado foi João13. Assim Jonh Stott discorre: “Quero convidá-los a subir comigo ao cenáculo onde Jesus passou sua última noite com os discípulos. ‘Tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Ao terminar, retornou ao seu lugar e disse-lhes: Ora, se eu, sendo o SENHOR e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo’. Note-se a palavra – ‘para que, como eu vos fiz, façais vós também’.
Ensinar através do exemplo não é a melhor maneira de influenciar as pessoas e inculcar fortemente os princípios ensinados. É a única. Jesus utilizou diversas formas de ensino para treinar seus discípulos: pregação, parábolas, estudos, atos. Entretanto, aqui ele se utiliza do melhor e mais eficaz método de ensino: o exemplo. Jesus não nos pediu nada daquilo que ele mesmo não tenha feito. O serviço da Igreja tem como paradigma o próprio ministério servil de seu Mestre. Assim, naquela noite de quinta-feira, antes de se despedir dos discípulos, Jesus traz a eles lições preciosas. “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (v. 15). A atitude de Jesus é apenas um exemplo. Cabe a nós perpetuarmos os seus ensinamentos.


Rev. Daniel Sampaio Mota