quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As eleições e a parábola de Jotão

As eleições e a parábola de Jotão

“Foram, certa vez, as árvores ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina sobre nós. Porém a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à figueira: Vem tu e reina sobre nós. Porém a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à videira: Vem tu e reina sobre nós. Porém a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu e reina sobre nós. Respondeu o espinheiro às árvores: Se, deveras, me ungis rei sobre vós, vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não, saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (Jz 9:8-15).


O Brasil está às vésperas de uma eleição. Houve uma época em que os governantes eram impostos ao povo e sua forma de governo era baseada em modelos totalitários e opressores. Entretanto, a democracia deu ao povo a oportunidade de participar diretamente do pleito. Hoje, elegemos nossos pares, pois a Constituição assegura que todos são iguais perante a lei, não havendo distinção de cor, sexo ou religião. Dessa forma, os eleitores tornam-se co-responsáveis pela política, pois cabe à população dizer sim ou não às propostas de cada candidato. No próximo domingo, todos os cidadãos, ricos e pobres, brancos e negros, cristãos e ateus, irão às urnas para eleger candidatos que vão dirigir os rumos da nossa nação.
Exatamente nesse contexto cabe uma reflexão sobre a Parábola de Jotão (Jz 9:8-15). Sobre esse texto, o Pr. Paschoal Piragine Jr. faz a seguinte declaração: “A parábola de Jotão apresenta lições importantes sobre nossa missão no contexto político. Depois de Abimeleque ter assassinado seus 69 irmãos, os habitantes de Siquém decidem proclamar o fratricida seu rei. Jotão foi o único filho de Gideão a escapar com vida. É justamente durante a cerimônia de coroação que Jotão profere essa parábola profética contra o irmão e o povo, que além de patrocinar o mal exaltava-o publicamente”
[1]. Diante dessa parábola, quero convidar você a refletir sobre a realidade política em que o Brasil atravessa, tirando conclusões e assumindo novas posturas diante do pleito que se aproxima.

I – Quando os bons se omitem, os maus assumem o poder. A parábola afirma que inúmeras árvores foram cogitadas para reinar, sendo a oliveira, a figueira e a videira. Contudo, nenhuma delas quis assumir essa responsabilidade. Diante disso, não havia outra saída senão convidar o espinheiro para exercer tal função. Essa parábola ilustra que a presença de um mau governo se deve em função da omissão daqueles que poderiam fazer um bom governo. O padre Antônio Vieira afirma que a omissão é o pecado que se faz não fazendo. O apóstolo Tiago registra em sua carta: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4:17). Martin Luther King Jr., pastor batista que lutou contra o racismo norte-americano, bradou: “O que me impressiona não é o grito dos tiranos, mas o silêncio dos justos”. O Brasil tem sido governado por espinheiros porque as oliveiras, as figueiras e as videiras estão se omitindo. Eis o motivo pelo qual a nação padece diante da gestão de pessoas inescrupulosas que estão interessadas unicamente no benefício próprio. Ética e moral são conceitos desconhecidos pela maioria de nossos parlamentares. Como bem disse Robinson Cavalcanti: “A maior crise que o país está vivendo não é econômica ou social, mas uma crise moral
[2]. A Bíblia está repleta de exemplos que reis e príncipes que conduziram a nação de Israel à apostasia. Há uma máxima popular que é verdadeira: o povo é o reflexo de sua liderança. Muitos cristãos estão à margem dos acontecimentos, alienados ao processo eleitoral. A Igreja brasileira, que deveria ser uma voz profética para bradar contra a impiedade de nossos governantes espinheiros, tem se prostituído com esse sistema corrupto. Muitos púlpitos são transformados em verdadeiros palanques eleitorais onde candidatos profanos sobem ao altar de Deus para manipular um rebanho que se tornou massa de manobra. A igreja brasileira não deve apenas orar, mas, sobretudo, ser uma Igreja consciente! Se há um dom que carecemos na atualidade é o dom do discernimento. Precisamos que homens e mulheres vocacionados por Deus se levantem para lutar pelos valores e princípios que a nação tem perdido. Nós podemos ser as árvores frondosas de que o país precisa. Não podemos omitir-nos nem achar que todos os que exercem a política são espinhos! Se os espinhos estão lá é porque as árvores se furtaram do seu papel![3]

II – Para servir é preciso sacrificar-se; para ser servido é preciso sacrificar os outros. Eis o motivo pelo qual muitos não querem servir nem se transformar em benção na vida dos outros. Perceba que oliveira disse: “Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?” (v. 9). Da mesma forma, a figueira se esquivou: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores?” (v. 11). Semelhantemente, a videira apresentou sua justificativa: “Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens e iria pairar sobre vós” (v. 13). Como se pode observar, o serviço exige abnegação e sacrifício, qualidades que nem todos estão dispostos a buscar. As pessoas não estão interessadas em sair da sua zona de conforto para se envolver nos problemas dos outros. Então, houve uma inversão abrupta da função pública, pois aqueles que deveriam se valer do cargo para servir os outros, utilizam o posto e suas prerrogativas para benefício próprio, em detrimento da opressão de seus súditos. De acordo com a parábola, o rei deveria pairar sobre as demais árvores, dando proteção e sombra a elas. A função do rei seria servir as demais árvores. Contudo, ao ser empossado rei, o espinheiro disse: “Vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não, saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (v. 15). Ou seja, aquele que deveria ser um instrumento de benção, torna-se uma maldição. O espinheiro subjugou as demais árvores e passou a oprimi-las. Essa história é um retrato contemporâneo da política no Brasil. Basta ver e ouvir as propostas na propaganda eleitoral para vislumbrar que aquilo que se propõe é bem diferente da prática. Inclusive candidatos que se autodenominam evangélicos são flagrados em escândalos que envergonham o Evangelho de Cristo.
Sendo assim, quero alertar você para duas atitudes que você deve assumir com relação às eleições do próximo domingo.

Primeira Atitude: Ore! O apóstolo Paulo fez a seguinte exortação ao seu filho na fé, Timóteo: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda a piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” (I Tm 2:1-3).
Segunda Atitude: Vote com consciência! Você conhece as propostas de seus candidatos? Muitos cristãos estão votando em candidatos que defendem abertamente a união homossexual, são favoráveis ao aborto, apóiam a lei da homofobia e tantas outras leis que ferem diretamente a Palavra de Deus. Como servo de Deus, seu primeiro compromisso é com a Palavra de Deus. Portanto, votar em candidatos que são instrumentos de satanás para implantar a institucionalização da iniqüidade é uma contradição. Portanto, saiba em quem você está votando e quais são suas propostas de governo.

"Não havendo sábia direção, cai o povo..." (Pv. 11:14).



Rev. Daniel Sampaio Mota


[1] PIRAGINE JÚNIOR, Paschoal. Crescimento Integral da Igreja: uma visão prática de crescimento em múltiplas dimensões. São Paulo: Editora vida, 2006, p. 178.
[2] CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e Política. Editora Ultimato, 2000.
[3] PIRAGINE, Idem, p. 179.